terça-feira, 22 de novembro de 2011

A AQUISIÇÃO DO SISTEMA DE ESCRITA PELA CRIANÇA

INTRODUÇÃOA escola é responsável primeiramente por ensinar os seus alunos e alunas a ler e a escrever. No entanto, a maioria das crianças já chegam à escola com uma noção básica do que é leitura e a escrita, devido ao contato que tem  com o mundo fora da escola. Inicia-se assim o processo de escrita a qual passa por diferentes níveis. Ferreiro (1990) afirma que aprender a ler começa com o desenvolvimento da língua escrita.
Pensando nisso, buscamos analisar as escritas de algumas crianças em uma sala de aula de 1° ano com faixa etária de 6 e 7 anos. O objetivo é verificar em que nível de escrita encontram-se as crianças e quais as hipóteses de escritas levantadas pelas mesmas.
E para uma maior compreensão desse assunto utilizamos algum estudo teórico das Educadoras Emília ferreiro e Lúcia Rego.
Seja como for, esperamos ter contribuído de alguma forma para os estudos que vêm sendo feitos sobre a aquisição do sistema de escrita pela criança.
A CRIANÇA E SUAS DESCOBERTAS SOBRE A ESCRITASabemos que a escola tem como função primordial, ensinar a ler e escrever. Mas, muitas crianças já chegam à escola com uma noção do que seja leitura e escrita. Estas crianças, geralmente, convivem com pessoas que lêem constantemente, vendo isso, a criança pode se interessar por historinhas, gibis e outras leituras que facilitam seu processo de escrita, neste caso, a leitura e a escrita “caminham juntas”.
A criança pode também observar como as pessoas falam e levantam algumas a respeito da língua escrita. Este caso, é comprovado pelos estudos de Ferreiro e Teberosky, que comprovam que a criança ao representar a fala na escrita, desenvolve hipóteses sobre a língua escrita mesmo antes de aprender a ler.
Segundo Ferreiro (1990), aprender a ler começa com o desenvolvimento da língua escrita. Pesquisas sobre o processo de aprendizagem da escrita vem mostrando, que para se apropriar do sistema de representação da escrita, a criança precisa refletir sobre o que a escrita representa e o modo de representá-la.
Segundo Ferreiro (1990), os primeiros estudos das atividades gráficas centraram-se na evolução do desenho. Referindo-se aos desenhos de animais e objetos que algumas vezes servem como mensagens e que são chamados de escrita pictória. A escrita existe inserida em uma complexa rede de relações sociais,a criança tenta compreender o que são essas marcas gráficas e como os usuários a utilizam.
Após suas descobertas e hipóteses sobre a língua escrita, a criança começa a escrever. Ao escrever não copia simplesmente aquilo que ler. A cada etapa ela mostra progressos que demonstram que a mesma é um elemento ativo que constrói a sua escrita.
Segundo Coelho (2001), escrever significa relacionar o signo verbal a um signo gráfico. Portanto, na escrita se estabelece relação entre a audição, o significado e a palavra escrita. Assim, quando a criança já tem o significado do objeto interiorizado, seu processo de escrita fica mais fácil.
A ESCRITA E SEU FUNCIONAMENTO
No inicio da alfabetização, os alunos escrevem com muitas letras, no levantamento e desenvolvimento das hipóteses descobrem que na fala cada letra corresponde a uma sílaba, logo na escrita escrevem fazendo correspondência. É comum neste caso a formação de palavras com letras que correspondem ao seu nome.
Com a evolução da escrita os alunos percebem que é necessário mais letras para a construção de sílabas, primeiro eles incluem as vogais e depois as consoantes. Observando a escrita de colegas e da professora, analisam a sua produção, chegando a dominação das silabas e conseqüentemente as palavras. É apesar dos possíveis erros de ortografia, à exemplo de separação de sílabas e uso de pontuação, nessa etapa já conseguem produzir textos legíveis.
É importante que os alunos façam a interação entre a fala e a escrita e percebam que não se escreve do jeito que se fala. O que segundo Abaurre
Todas as crianças representam já a escrita como algo diferente de uma mera transcrição da fala. As variações aqui, são de grau e de detalhe, o que, como dissemos, pode ser explicado por referência ao contexto onde vivem as crianças (e certamente, por diferenças individuais) (ABAURRE, 1998, p.141).
Seja como for, é importante compreender que é preciso saber interpretar todas as hipóteses que as crianças fazem ao iniciar seu processo de aquisição da escrita e a partir de então trabalhar a escrita convencional, envolvendo um jogo mútuo entre a fala e a escrita.
O ERRO NA VISÃO CONSTRUTIVISTASegundo (Piaget apud Macedo, 1994, p.57) “[...] o erro é a oposição do acerto e deve ser visto e interpretado de um outro modo na teoria do desenvolvimento da criança, a questão é a de invenção, descoberta, e não necessariamente de acerto ou erro como é considerada, muitas vezes, uma visão formal do adulto”. O erro, neste contexto, visto como algo dinâmico, como caminho para o avanço.
Os erros dos alunos constituem, na verdade, ricas fontes de informação para o professor, mostrando-lhe a maneira a qual os seus alunos encontram-se, seu nível evolutivo atual, e apontando em especa, os aspectos que no momento, concentram as principais dificuldades. Os erros das crianças podem desta maneira, auxiliar muito o professor, norteando sua conduta em sala de aula.
É importante que as crianças percebam que podem errar que não precisam dar resposta certa para satisfazer o professor, que podem realmente dizer aquilo que pensam, sem medo de serem corrigidas.
São nos textos livres das crianças, que encontram-se diferentes tipos de erros construtivos. Esses erros podem ser entendidos como um estágio ou nível de desenvolvimento dos alunos, principalmente quando há aquisição do código escrito.
Abrecht (1994, p.134), também analisa a questão do erro, tomando como referência sua concepção de avaliação formativa, o erro “[...] é um fenômeno consubstancial à aprendizagem, à construção de conhecimento que operam por tentativa e hipóteses sucessivas”.
A maior contribuição do construtivismo às escolas foi revelar que acriança não pensa como o adulto e nem por isso é menos inteligente. A criança tem um modo próprio de entender as coisas, que vai evoluindo até entender o pensamento adulto. Para os construtivistas, a criança não absorve os estímulos passivamente, mas se empenha para progredir, tentando compreender as coisas de forma ativa e criativa. Segundo Andrade (2005), a criança manipula os objetos, faz perguntas, observa, reflete e inventa explicações, elabora hipóteses na tentativa de dar às coisas que vê, ouve e contata.
Os erros são compreendidos como manifestações do pensamento infantil e não como falhas da criança e, por isso, são aproveitados para promover a aprendizagem. Os conhecimentos do aluno são levados em consideração e o raciocínio e as reflexões, que são mais valorizados do que a repetição e a memorização.
O fato é que a criança aprende a ler e escrever, lendo e escrevendo, mesmo sema compreensão inicial do que se esteja fazendo.
ANÁLISE DAS ESCRITASAs escritas foram coletadas em uma turma de 1° ano, com faixa etária de 6 e 7 anos. Todas as escritas foram espontâneas, com o fim de obter resultados precisos para uma maior compreensão do processo de aquisição da escrita dos alunos e alunas do referido ano letivo. Abaixo segue algumas escritas das crianças, e respectivamente as análises das mesma:


Podemos observar na escrita 1 que a criança encontra-se em fase de transição do nível de escrita com garatujas para um nível pré-silábico. A criança ainda considera a hipótese de que a escrita é representada por desenhos, mas também já compreende que para escrever é necessário utilizar letras. Sobre essa hipótese de escrita afirma Rego
Portanto, à semelhança das escritas mais antigas que elegeram os pictogramas como símbolos gráficos, a criança também considera a hipótese de que podemos escrever desenhando (...) uma mudança, portanto, essencial para que a criança entenda a natureza da escrita alfabética consiste em ela compreender que para escrever nos utilizamos das letras (REGO, 1994, pp. 21-22).
Na escrita 2 e 3 constatamos que a criança encontra-se no nível pré-silábico sem valor sonoro. Ela usa as letras sem entender o seu significado e associa a quantidade de letras a serem utilizadas com o tamanho do objeto proposto. Sobre essa hipótese de escrita confirma Rego
Nessa fase a criança também se preocupa em escrever palavras de significado diferente com quantidades e combinações de letras diferentes (...) a quantidade e a variedade de letras para diferenciar o significado sem atentar para a relação que existe entre as letras e as características sonoras das palavras (REGO, 1994, p.22).
Na escrita 4, a criança encontra-se ao nível silábico com valor sonoro. Nessa fase a criança começa perceber a relação da escrita com os sons da fala e a quantidade de letras que usa corresponde ao número de sílabas da palavra. O que, segundo Rego
A fonetização da escrita começa geralmente de forma gradual. Mas há um momento desta evolução em que a quantidade de letras que a criança usa para cada palavra coincide sistematicamente com o número de sílabas das palavras (REGO, 1994, p.23).
Na escrita 5, em um primeiro momento constatamos que acriança está no nível alfabético, pois escreve corretamente as palavras. Porém, como são palavras que ela ouve e tem contato diariamente, não descartamos a hipótese de que ela apenas tenha memorizado essas palavras. Sobre essa hipótese afirma Rego
No entanto, para entender a natureza alfabética do nosso sistema de escrita a criança necessita entender que apenas uma letra para representar cada sílaba não é suficiente. Este entendimento, porém, acontecem gradualmente (REGO, 1994, p. 25).
Analisamos aqui apenas algumas escritas de algumas crianças. Mas entendemos que é preciso aprender e interpretar com domínio e bastante compreensão as diversas fases de desenvolvimento da criança em relação à língua escrita. Desta forma também buscamos trabalhar e desenvolver as melhores habilidades para ajudar na aquisição do sistema de escrita das nossas crianças.
CONSIDERAÇÕES FINAISAo término da análise das escritas, observamos que as crianças ainda estão em processo de alfabetização, o que é normal para uma turma de 1°ano e para crianças de 6 e 7 anos de idade, respeitando o seu nível de desenvolvimento cognitivo.
Percebemos também que as crianças constroem e elaboram suas próprias hipóteses de aquisição do sistema de escrita, a qual é um processo e que requer do professor conhecimento e habilidade para melhor ajudar no desempenho das mesmas.
Seja como for, entendemos que é necessário e mais satisfatório que as crianças sejam alfabetizadas por meio de textos, pois frases soltas a fazem por muitas vezes apenas memorizar as palavras, dificultando o seu desempenho na fala e na escrita de nomes. Sendo assim, o melhor é alfabetizar com textos que tragam para perto dos alunos e alunas seu cotidiano.
Bibliografia
REFERÊNCIA
ABAURRE, Maria Bernadete. O que revelam os textos espontâneos sobre a representação que faz a criança do objeto escrito? In: KATO, Mary A. (org.). A Concepção da escrita. Campinas: Pontes, 1998.
ABRECHT, R. A. Avaliação formativa. Edição Asa. Portugal, Rio Tinto, 1994.
ANDRADE, F. Construtivismo na pré-escola. Disponível em: <
http://www.klikeducacao.com.br:8000/especialista - pais 01/resp. 63htp> acesso em 12 de janeiro de 2011.
COELHO, Maria Tereza. JOSÉ, Elisabete de Assunção. Problemas de aprendizagem. São Paulo: Ática, 2001.
FERREIRO, Emília. PALÁCIO, Margarita Gomes. Os processos de leitura e escrita: novas perspectivas. Trad. Luiza Maria Silveira. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
REGO, Lúcia Lins Browne. A alfabetização numa perspectiva construtivista. In: BUARQUE, Lair Levi. REGO, Lúcia L. Browne. Alfabetização e construtivismo: teoria e prática. Recife: Editora universitário UFPE, 1994.

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