sexta-feira, 14 de outubro de 2011

REFERENCIAL TEÓRICO - UMA ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA CRECHE

É importante considerar que embora o desenvolvimento humano infantil siga processos semelhantes em todas as crianças, cada uma tem suas particularidades, seu ritmo próprio.
A educação infantil constitui hoje, um segmento importante do processo educativo. Sua trajetória no Brasil tem mais de 100 anos, mas só nas últimas décadas seu crescimento alcançou significação maior.
É comum em diversos países a demanda por creches e pré-escolas, e esse crescimento se deu devido ao avanço científico sobre o desenvolvimento da criança, a participação crescente da mulher no mercado de trabalho, a consciência social sobre o direito da criança à educação nos seus primeiros anos de vida.
O número de creches hoje é muito grande e há necessidade de oferecer qualidade para as crianças que são atendidas, portanto o cuidado com a educação infantil deve ser pensado como estratégia para favorecer a formação e o desenvolvimento de nossas crianças.
Segundo o inciso IV do artigo 208 da Constituição, é dever do estado e um direito da criança a garantia do atendimento em creche de 0 a 06 anos de idade, isso mais uma vez comprova que a função da creche é eminentemente educativa..
A esfera que mais tem se desenvolvido é a municipal, devido as pressões das famílias e associações comunitárias locais porém, apesar da resposta ser rápida, na maioria das vezes a qualidade de atendimento sofre grande deterioração no segmento creche. A insuficiência e inadequação de espaços físicos, equipamentos e materiais pedagógicos, a não incorporação da dimensão educativa nos objetivos da creche, a separação entre as funções de educar e cuidar, a inexistência de currículos e propostas pedagógicas, são indicadores da baixa qualidade do atendimento em creche.
Particularmente grave é a desvalorização e a falta de formação específica dos profissionais que atuam na área educacional no segmento creche.
Como e onde o psicopedagogo poderia estar atuando nessa área? Conhecendo a diversidade de atuação desse profissional, e a partir de uma experiência realizada numa creche, na cidade de Londrina-PR, foi comprovado que é possível desenvolver um trabalho de reciclagem ou de formação com as atendentes de creche. A partir daí a qualidade de atendimento já pode ser melhor, pois após a conscientização das funcionárias de creche sobre sua função, sobre suas atitudes e comportamentos perante as crianças que estão sob seus cuidados, de forma gradativa , o comportamento será outro e o próprio funcionamento da instituição sofrerá transformações.
A criança é concebida como um ser completo embora necessite da presença de um adulto, que o acompanhe em seu desenvolvimento, o qual será aprimorado se, no meio em que estiver inserida, houver diversidade de estímulos.
É importante considerar que embora o desenvolvimento humano infantil siga processos semelhantes em todas as crianças, cada uma tem suas particularidades, seu ritmo próprio. Assim sendo o papel fundamental do educador perante seu trabalho de formador, é que ele pense e reflita sobre sua prática, revendo atitudes que podem ser melhoradas, de forma que ele não aplique "mecanicamente" uma rotina pré-estabelecida.
O psicopedagogo pode facilitar o relacionamento do indivíduo com a realidade que enfrenta no seu ambiente de trabalho, oferecendo alternativas para enfrentar as dificuldades do cotidiano com as crianças de forma a promover um melhor desempenho em sua função enquanto educador.
Segundo Sara Pain, o papel do psicopedagogo é o de levar a equipe da instituição a observar o ambiente, enquanto ambiente de desenvolvimento, como está o aprender geral e, a partir daí, examinar os diferentes caminhos que se tem a seguir, verificar as possibilidades e partir para a mudança (Pain, 1986).
As modernas teorias da educação e administração, mostram tendências de atribuição de importância crescente aos fatores emocionais e à criatividade na aprendizagem e na produtividade, na liderança e na participação em grupo (Moscovici, 1998). Segundo essa teoria, a participação eficiente do grupo, permite implementar opções conscientes para mudanças de comportamentos inadequados, aprender a dar ajuda , visando um crescimento pessoal e da própria instituição.
Como a creche é uma instituição que sofre todos os tipos de discriminação, é um terreno para ser trabalhado por psicopedagogos preocupados com o desenvolvimento infantil e enquanto ser biopsicosocial que é o ser humano.
Aprender a aprender é um processo complexo, onde os resultados do trabalho podem demorar a aparecer, nem sempre as respostas são imediatas porém, o homem busca ativamente respostas para seus problemas nos mais diversos ambientes: escola, igreja, família entre outros, e raramente paramos para analisar como estamos agindo e, é uma necessidade humana rever essas condutas para melhorar nossas ações.
Nesse sentido é muito pertinente a fala de Moscovici, quando relata em seu livro que treinar um grupo é levá-lo a experimentar comportamentos diferentes do que é costumeiro, é levar o grupo a gerar mudanças tanto a nível cognitivo, como emocional e comportamental.
O treino do grupo deve ser planejado para atender os objetivos e as necessidades do próprio grupo ou instituição em que o mesmo está inserido, de forma a torná-lo mais eficiente. Um grupo começa, funciona durante um tempo modifica-se, porém sem perder de vista o objetivo maior do treinamento que é ajudar o indivíduo e o grupo a ter comportamentos mais funcionais e eficientes.
Quanto mais integrado for o trabalho desenvolvido na instituição, melhor será para a criança atendida. É nela que o resultado será mais aparente. De acordo com Moscovici (1998), o trabalho de treinamento de grupo propõe-se a levar uma equipe a aprender a crescer de forma que cada membro confie em si mesmo e nos demais sempre visando o desenvolvimento e a aprendizagem.
Diante desse contexto fica um desafio aos psicopedagogos, que segundo Scoz (1997) identifica esse profissional como aquele que tem o papel de encontrar alternativas de ação que possibilitem os educadores a fazerem uma revisão de sua prática, encontrando saídas possíveis para promover o desenvolvimento da criança.

Justificativa

A relevância deste trabalho é poder oferecer à creche, propostas e/ou subsídios que levem os profissionais de creche a aprimorar a sua atuação diária com as crianças.
Trabalhar o processo educacional na creche é proporcionar ao grupo de atendentes, um momento para refletir, aprender a lidar com as diferenças e com as dificuldades, pois quanto mais se fizer avaliação do trabalho diário, mais possibilidade se tem de crescer, de se desenvolver e melhorar a qualidade de atendimento à criança.


Metodologia

Devido a falta de recursos técnicos e financeiros para atender o grande número de creches, há uma deterioração na qualidade do atendimento para as crianças que freqüentam as creches. Com as novas propostas pedagógicas, é de fundamental importância formar o profissional que trabalha diretamente com a criança
Através de observações e discussões com os profissionais de creche, propor-se-á reflexões sobre as suas atuações diárias, de conduta, de comportamento e contribuir com propostas significativas para um melhor desempenho e atuação enquanto educador, transmissor de hábitos e valores que são modelos de aprendizagem.
As situações pertinentes durante o trabalho serão registradas para que se possa dar retorno positivo na instituição e promover mudanças, sempre visando um melhor atendimento à criança que freqüenta a creche.
Referências bibliográficas

Campos, M. M.; Grosbaum, M. M. Patrum, R. C. & Rosembury, J. Profissionais de Creche. Cadernos Cedes, 1984.
Carvalho, S. P. O dia- a- dia. Série de Manuais Sobre Creche. Brasília; CNDM, nº3, 1998.
Machado, T. P. Creche Universitária - um sonho que se fez realidade. Londrina: UEL, 1997.
Mendes, M. H. A leitura psicopedagógica no contexto escolar. Revista Psicopedagógica. São Paulo: ABPp.,v.11, nº23, 1992.
Moscovici, F. Desenvolvimento Interpessoal: treinamento em grupo. Rio de janeiro: José olímpio, 8ª ed. 1998.
Oliveira, V. B. & Bossa, N. (org.) Avaliação psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petrópolis: Vozes, 5ª ed.. 1997.
Pain, S. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto alegre: Artes Médicas, 1986.
Scoz, Beatriz J. L. & Mendes, Mônica H. A psicopedagogia no Brasil: Evolução Histórica. Trabalho apresentado no 1ºseminário estadual de psicopedagogia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 1987, p. 14-24.
Unicef. Política Nacional de Educação Infantil. Brasília: MEC / SEF / COED, p.9-11, 1994.
Unicef. Por uma Política de Formação Profissional de Educação Infantil. Brasília: MEC / SEF / COED.,1994.
Weiss, M. L. Reflexões sobre a Psicopedagogia na escola. Revista psicopedagógica. Londrina: ABPp (seção do Paraná), nº16. 1997.

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