sexta-feira, 14 de outubro de 2011

CASOS CLÍNICOS ESCUTADOS PELAS FACILITADORAS/MEDIADORAS: AGLAEL LUZ BORGES E DULCE CONSUELO R. SOARES Dulce Consuelo R. Soares

Após o relato da equipe comecei a buscar associações com o que tínhamos vivido no sábado anterior, lembrei ao grupo o que havia solicitado.

Relato de Experiência/ Março – 2003. Faculdade São José/ Itaperuna - RJ
Curso de Psicopedagogia
Disciplina: Psicopedagogia Clínico-Institucional.
Casos Clínicos escutados pelas facilitadoras/mediadoras: Aglael Luz Borges e Dulce Consuelo R. Soares.

Caso número 1:
Rosa e Jeane:
Relatam o acompanhamento de uma menina de 15 anos que se encontra na terceira série do ensino fundamental, verbalizam que já é repetente por três vezes consecutivas; a adolescente fala  que deseja ser garota de programa. Segundo as futuras psicopedagogas a mãe se negou a fazer a entrevista: “- Parece que a mãe não quer saber da Diane.” ( percepção de uma Pp). A jovem tem um corpo infantil e diz que sua mãe é sua melhor amiga.
Caso número 2:
Simone:
A criança aprende bem, porém tem problema na ortografia, não há problema cognitivo, “parece ser vincular com o pai” ( percepção das Pps)  tem 9 anos e está na terceira série. As alunas de psicopedagogia descobriram que existe uma carta escrita pelo pai do menor dizendo que não o desejava, as alunas temem que a criança tenha lido essa carta e isso ter afetado a questão da escrita. O menor teve meningite.
Caso número 3:
Liliane e Maria das Graças:
A criança tem 11 anos e a queixa da professora é que não lê e não escreve, tira nota baixa em todas as disciplinas, porém a criança é desejante e a mãe também. “Percebemos que a criança tem tudo para decolar, mas o que dizer a professora? Acreditamos que o medo está paralisando.” ( Percepção das Pps)
Caso número 4:
Claudia, Fabrícia e Miriam.
A criança tem 12 anos está na segunda série, não foi alfabetizada, não aceita regras e limites é agitada; toma o medicamento: Aldol indicado por um neurologista, há uma equipe de educação especial assistindo o menor na escola.
Caso número 5:
Marialva e Fátima
A criança tem 8 anos procura saber de tudo, ( repetiu o CA) apresentava dificuldade na leitura e na escrita, porém freqüenta a segunda série no momento. Faz tratamento fonoaudiológico, apresenta “crises nervosas” na sala de aula de forma repentina, despertando medo nos colegas; as crises só manifestam quando se sente injustiçado. As psicopedagogas acreditam que há falta afetividade; os pais são separados e já foram encaminhados para terapia familiar. Passou as férias na casa do pai, porém ficou com a avó paterna; teve problemas de audição, operou e faz tratamento com a fono.
Caso número 6:
Celina e Carlézia
Menina de 12 anos que não aprendeu a ler e escrever apresenta boa expressão oral, excelente copista, gosta de desenhar e de cantar, ficou retida na segunda série por não saber ler e escrever, atualmente está na quarta série devido à promoção automática. Na conversa com a mãe as futuras psicopedagogas registraram a seguinte fala: “ Ela tem desvio de mente”. A mãe atribui a separação dos pais uma possibilidade de entrave, pois coincidiu com o processo de alfabetização, teve febre alta; a criança gosta da escola, mas não gosta que sua mãe vá até lá, teme em ir para a APAE. As psicopedagogas repararam que a menor se veste com roupas de babadinho, segundo o relato da mãe quando a menina aprendeu a ler e a escrever apanhou muito dela.
Caso número 7:
Ana Claudia e Ângela
Criança de 9 anos matriculada na terceira série do ensino fundamental. Queixa da professora: não sabe ler e nem escrever, é imaturo e tem mau relacionamento com os colegas, porém essa percepção não confere com o olhar das futuras psicopedagogas em observação durante o recreio; não conseguimos falar com a mãe.
Caso número 8:
Fabiana, Adriana, Edilene.
A criança tem 11 anos repetiu a segunda série, é a filha caçula de uma família de três irmãos. Seu irmão tem problemas (???) e ela tem horror do pai, não lê e não escreve bem. A queixa da professora: implica com os colegas na sala, participa com eles nas atividades, não tem acabativa e se isola no recreio. A mãe teve câncer e nessa época batia muito nos filhos. A menor é dispersa, teve raquitismo e meningite.
Caso número 9:
Eva, Eliane, Isabel
A criança tem 9 anos e está na terceira série do ensino fundamental.
A queixa da professora: “Não sei o que fazer”. A criança ia bem na escola municipal ao ser transferida para a escola estadual seu rendimento caiu muito. Na percepção das futuras psicopedagogas o professor demonstrou certa indiferença, diz que a família é ausente, tem uma casa, porém não tem um referencial.
Caso número 10:
Ana, Maria, Eva
A criança tem 9 anos está na segunda série, apresenta dificuldades em formar fonemas é disperso e muito dependente da mãe. Houve muitas trocas de professores, tem dificuldade de formar um elo; se sair de perto da criança ela não faz nada.
Caso número 11:
Marta, Adriana, Luciana.
Alessandro tem 11 anos e está na terceira série, a queixa é dificuldade de aprendizagem, a escrita é deficiente, é desinteressado; não há incentivo da família para estudar, o menor trabalha na roça e se sobressai. Uma das falas mais significativas: Uma Pp disse: - “A professora era vista por mim como um exemplo, mas vi que faltava nela mais flexibilidade!” Por exemplo: a criança desenhou uma árvore preta e a professora não aceitou seu desenho. A mediação foi feita na professora.
Caso número 12:
Magna, Claudia.
Adriano tem 11 anos e está na segunda série, não conhece as letras e apresenta dificuldade na leitura. Adriano é “esquecido” conversando com a mãe, descobrimos que não enxerga da vista esquerda, é fruto de um namoro e é criado pelos avós, porém se relaciona bem com as pessoas.
Caso Número 13:
Kelly, Paula, Cristiane.
Caio se encontra na segunda série tem 8 anos. Segundo a professora tem dificuldade em tudo menos em matemática (?) é agitado e sempre um dos últimos a entregar os trabalhos, é agressivo. Vive dizendo: “Se eu fizer isso meu pai me mata”. É o mais forte da turma e bate em todo mundo. Na percepção das futuras psicopedagogas a mãe não valorizou e não deu importância ao trabalho psicopedagógico. Fala da Mãe: - “O Caio só uma coça resolve, quando ele apanha fica sossegado”.Na opinião das meninas o pai parece ter um olhar mais comprometido. Observamos que quando Caio tinha um professor que atuava como um Construtor de Vínculos Positivos, ele fluía mais (percepção das Pps).
Caso Número 14:
Lívia, Lucia, Monique.
As futuras psicopedagogas relataram que só tiveram angústia no início do trabalho. A criança tem 7 anos e está na segunda série, omite algumas letras, copia lentamente, relatam que ao perguntarem algo ele era o primeiro a responder, toma o medicamento: Depákene; o menor apenas precisa de um tempo maior para administrar os conteúdos escolares, sua média está acima de 7,0. Acreditamos que a criança apenas precisa de mais autonomia, orientamos aos pais a compra da revista Picolé para treinar a questão dos fonemas/grafemas  ressignificando seu vínculo com a disciplina de Português.
Caso número 15:
Paula, Soraya
Menino de 11 anos se encontra na quarta série não sabe ler e nem escrever. O pai não deixa brincar em casa. Sinaliza para as Pps que teve um choque elétrico na incubadora. A criança diz que tem vontade de aprender.
Intervenção Psicopedagógica:
Ao ouvirmos as angústias das meninas, nos sentimos também angustiadas, pois estamos lidando com a Construção do Ser e do Saber, após quase 2 horas de relatos, fizemos uma pausa de 15 minutos para refletirmos sobre o que ouvimos das meninas. A professora Dulce Consuelo propõe as futuras psicopedagogas que esqueçam temporariamente sobre o que falaram e que reflitam sobre alguns escritos que colocará no quadro; que apenas: sintam, percebam, formem as primeiras imagens, simbolizem para posteriormente conceituarem.
Questões disparadoras:
-> O que é da Instituição?
-> O que é da Clínica Psicopedagógica?
-> O que é da Família?
A Arqueologia do Olhar:
 è      Percebemos o Outro de forma homogênea?
 Objeto de Estudo da Psicopedagogia: A Aprendizagem Humana.
 Nossa Missão Psicopedagógica:  Resgatar o prazer em aprender!
 Administrar enquanto educadores nossas:
 -> Onipotências
 -> Potências
 -> Impotências
O processo natural do ensino-aprendizagem gera angústia porque entra em conflito o saber x o não saber.
Discriminamos o que é da variável afetiva, cognitiva, social, orgânica e transcendental?
Quadro Hierárquico de Referências:
è      O que sentimos ao ouvirmos as falas sobre as crianças?
è      O que percebemos sobre elas?
è      Que imagens formamos delas?
è      Como a simbolizamos, ou seja, como representamos o que ouvimos de uma criança: com a minha percepção, com a da mãe, a do pai, a da professora, ou a da própria criança?
è      Como  a conceituamos?

Na devolução devemos nos preocupar com:
O quê dizer?
Como dizer?
Por quê dizer?
Para quem dizer?
A professora Aglael começa a pontuar para as meninas o que seria uma Avaliação Psicopedagógica:
-          Precisamos avaliar para educar e não para dar notas.
-          Que estruturas mínimas de conteúdo o aluno deve ter para passar para a série seguinte.
-          Como o professor pode proporcionar ao aluno a ser cidadão?
-          A angústia é necessária, ela gera movimento.
-          É preciso desenvolver o desejo em aprender, partindo da educação assistemática do aluno, convergindo com os conteúdos escolares.
-          Temos dificuldades de aprendizagem ou necessidades de aprendizagem?
-          O “nó” geralmente está no processo e na arrumação das variáveis/ dimensões.
-          As variáveis transcendentais são os nossos valores, nossos limites estruturantes.
Nesse momento Aglael pede ao grupo que tentem categorizar os casos clínicos de acordo com os movimentos frente ao novo: indiferenciado – diferenciado – separado – integrado com o objetivo de instrumentalizar melhor as aprendentes de psicopedagogia.
Dulce sinaliza a diferença do normal, do anormal e do patológico, assinala que o Paradigma Luz Borges parte da saúde do aluno, daquilo que ele sabe fazer melhor para aos poucos se iniciar o processo de (re) ativação do Ser e do Saber.
Após o almoço, Aglael e Dulce preparam seis falas de autores de diversas áreas do conhecimento, proporcionando ainda um momento de reflexão em relação aos casos clínicos apresentados para triagem dos mesmos, direcionando o que é de fato da escola, do professor, da família, do aluno e por conseguinte da clínica psicopedagógica.
Eram seis frases, todas leram as seis, porém cada grupo elegeu a frase que mais se identificou com seu caso:
Frase 1:
“Se uma criança estiver verdadeiramente interessada numa palavra, ela aprenderá facilmente e depressa”.(Fernàndez, Alícia – A Inteligência Aprisionada).
Frase 2:
“O Professor é amigo dos alunos e colaborador do desenvolvimento deles sendo respeitado por ser humano e por ser professor”.(Russo, Maria de Fátima & Viana, Maria Inês Aguiar – Alfabetização um processo em construção).
Frase 3:
“Se o professor vê um erro como um fracasso indesejável ou como um desempenho interessante, o aluno vai se sentir encorajado, ou não perante a aprendizagem”.(Bettelhein, Bruno & Zelan, Karea- Psicanálise da alfabetização).
Frase 4:
“A aprendizagem é um processo cuja matriz é vincular e lúdica e sua raiz corporal, seu desdobramento põe - se em jogo através da articulação inteligência - desejo e do equilíbrio assimilação – acomodação”.(Fernàndez, Alícia – A Inteligência Aprisionada).
Frase 5:
“Atribuir a uma pessoa um lugar dentro de um grupo familiar a induzir a desempenhar este papel. A atribuição do“ lugar que não aprende” é muito mais poderosa do que outra forma de coerção.” ( Pain, Sara - A Função da Ignorância).
Frase 6:
“A Educação construtivista baseia-se numa teoria que encara o aprendizado como um processo de construção que se origina no interior do indivíduo e que é constituído pela modificação de idéias correlacionadas. O alvo desta educação é a autonomia”.(Russo, Maria de Fátima & Viana Maria Inês Aguiar – Alfabetização um processo em Construção).
A professora Aglael trabalhou com as alunas sobre o que perceberam das frases e sua relação com os casos clínicos. Passou para casa uma tarefa, pediu que montasse um mini projeto numa visão psicopedagógica:
Temas a serem escolhidos:
Conselho de classe
Reunião de pais
Recuperação Paralela
Educação Inclusiva.
Saúde e Educação ao Jovem Aprendiz!
Proposta Psicopedagógica:
Cada Grupo deverá trazer um mini projeto numa visão psicopedagógica para o dia 22/03/03.
Os Temas a escolher são:
Recuperação Paralela,
Educação Inclusiva,
Reunião de Pais,
Conselho de Classe.
Obs: Vale ressaltar que desejamos que todos os temas sejam escolhidos, a escolha pelo tema poderá ser feita por sorteio ou de forma democrática entre as futuras psicopedagogas.
Estamos enviando 5 textos que facilitarão a construção dos mini projetos, vocês devem ler pelo menos, um, porém todos os textos são belíssimos e extremamente importantes, devem reler o texto da Beatriz Scoz, buscando uma articulação com os casos clínicos que vocês nos relataram e voltarem a visualizar o esquema da professora Aglael Luz Borges: “Uma didática mais compromissada com o desenvolvimento e aprendizado e a produção na e para cidadania. Com esse material os mini projetos fluirão de forma natural.
I.P.C Não fiquem preocupadas, lembrem de tudo que vocês vivenciaram, aprenderam e leram no curso, desde o seu início até os dias atuais e não se esqueçam do mais importante quem vocês são.
Seres que se dedicam a desenvolver outros seres.
Apresentação dos Projetos Psicopedagógicos.
Grupo 1-  Recuperação Paralela
O grupo vai buscar fundamentação na técnica psicopedagógica: SPA (sentir – pensar – agir) da professora Dulce Consuelo pela Internet no site do Psicopedagogia On Line, percebe através da técnica que é preciso proporcionar uma didática que caminhe do sensório – motor ao hipotético dedutivo, conseguindo assim resgatar e preencher as possíveis lacunas de aprendizagem. As crianças são separadas de acordo com o estágio de desenvolvimento mental que se encontram e o conteúdo escolar é ministrado na “linguagem” da criança, favorecendo a mediação do ensinante em relação ao conteúdo sistemático. A equipe inclusive está aplicando tal modalidade de recuperação em sua escola.
Grupo 2 – Reunião de Pais.
O grupo lança a estratégia de cativar os pais, trazendo-os assim para dentro da escola; a equipe pedagógica além de confeccionar os convites, telefona para todos os pais da escola explicando o tema da reunião : Escola e Família: Quem Ensina e Quem Aprende? Vale ressaltar que o grupo a priori fez uma pesquisa sobre o melhor dia e horário para tal encontro, ficou acordado que seria a cada dois bimestres à noite com 1 hora e 30 minutos de duração (o grupo aqui reinventa uma nova estratégia terminando a reunião 10 minutos antes do programado, conquistando assim um reação diferenciada na percepção dos pais) com o objetivo de ganhar a credibilidade deles e desconstruir à idéia de que reunião de pais é para ouvir problemas. O objetivo é proporcionar um repensar, uma nova maneira de lidar com os dilemas do mundo contemporâneo.
Grupo 3 – Recuperação Paralela.
O grupo buscou fundamentos em Sara Pain. Objetivam corrigir a disparidade que existe entre a série que o aluno se encontra e o que de fato ele sabe. O grupo já está vivenciando tal intervenção na sua escola, fizeram um levantamento diagnóstico dos alunos com necessidades de aprendizagem e encontraram três níveis de cognição. Iniciaram o processo da seguinte forma, prepararam as professoras que vão ministrar as aulas e fizeram um horário extra – sala de aula, quem estuda de manhã, vem à tarde, aqueles alunos que trabalham na roça, tem o reforço no mesmo horário de aula, porém com outro professor.
Grupo 4 – Conselho de Classe.
Este grupo buscou fundamentos no texto de Inês Castro Teixeira: O Professor como Sujeito Sócio Cultural. Aqui o grupo acredita que a proposta do Conselho de Classe numa visão psicopedagógica é favorecer ao professor uma reflexão do seu papel e de sua responsabilidade social. O conselho de classe passa a ser um espaço de desenvolvimento e aprendizado dos ensinantes, estimulando seu lado aprendente. O conselho passa a ser um espaço de troca de saberes entre os professores, promovendo a construção do plano de unidade do bimestre conquistando assim aulas convergentes  entre as várias disciplinas.
Grupo 5 – Reunião de Pais
Toda a escola estará envolvida desde os serventes até o diretor, a proposta é explicar a metodologia da escola e buscar com os pais temas que são do seu interesse, oportunizando a eles um espaço de sugestão e crítica. Os assuntos específicos dos alunos serão tratados separadamente em dia e horário diferente. Nossa reunião tem como meta: vir a ser uma Escola de Pais.
Grupo 6 – Educação Inclusiva
Projeto Piloto instalado na APAE de Itaperuna direcionado para as crianças de primeira à quarta série. Convite a toda comunidade para a vivência da Inclusão. Os encontros serão mensais e terão duração de 1 hora, os encontros são em forma de: palestras, grupos de apoio aos pais, integração com as crianças com necessidades especiais e grupos de estudo.
      Aqui tivemos a oportunidade de interromper o trabalho, a aluna Marialva fragilizada leva o tema da inclusão para uma questão de caráter pessoal, dizendo que: “– Esse trabalho é um absurdo, não incluímos ninguém aqui, todos falam uns dos outros não somos unidos, acho esse trabalho uma hipocrisia!” Instalou-se um grande silêncio na sala, todas as alunas olhavam para mim, eu sinalizo à Marialva que continue, pois todas nós iríamos ouvir. “- Estou me tremendo toda, me desculpem não sei porque falei isso, mas é o que eu sinto. Não parei a Pós, porque preciso dela para melhorar no meu trabalho, se fosse só pelo critério: turma, já havia parado.”
     Neste momento todos ficam perplexos com a colocação da colega, resolvo anotar e aguardar o movimento da turma, logo em seguida outra aluna verbaliza:
“Ah! Eu também sou excluída, me chamam de metida, porque gosto de estudar e participar, não falo mais nada, o grupo não me autoriza a falar. Estou sofrendo com isso, pensei que o saber estivesse entre como Alícia Fernàndez fala.” ( Simone)
Outra colega se manifesta, Maria das graças (a freira).“Eu também sou excluída, as pessoas não me incluem porque pensam que vou julgar seus comportamentos.”
“O grupo das falantes” se manifesta através de sua integrante: Paula - “E nós? Somos excluídas porque falamos entre nós, o grupo nos acha idiotas, porque somos jovens e gostamos de conversar e rir, quando falamos, é sobre a psicopedagogia”.
Continuo registrando tudo e falo para as meninas continuarem, pois para incluirmos a pessoa com necessidade especial, precisamos nos incluir primeiro, sinalizo que vou trabalhar com este sintoma que acabou de emergir na fala disparadora de Marialva que como estamos constatando é de todas, portanto faz parte do ECRO grupal da turma!
Outra aluna: Adriana verbaliza que as pessoas não gostam de emprestar nada, quando falta uma aula ela fica com a lacuna, porque ninguém pode emprestar o caderno para xerox; tem um grupo que a irrita, que é o pessoal que sempre chega atrasado.
A turma volta a ficar em silêncio, começo as intervenções pedindo que reflitam sobre o que vou falar, que apenas sintam as palavras, para depois nomearmos e buscarmos agir de forma psicopedagógica.
Reflexão:
Nesse momento constato que o grupo vivencia um obstáculo na aprendizagem dentro de si mesmo; a aula se transforma numa intervenção psicopedagógica, onde foi possível marcar as delimitações do que seria da esfera da clínica, da instituição, da família, partindo do próprio sintoma que o ECRO grupal apresentou.
Intervenções da Mediadora: Dulce Consuelo
Penso que o inconsciente está nos sinalizando algo...
- O grupo que trouxe o tema Educação Inclusiva foi o disparador para a solução deste sintoma! 
Marialva revela uma questão que é do ECRO da turma! Foi a emergente do grupo, portanto precisamos dela para denunciar e enunciar nós mesmas!
Como vamos pensar em Educação Inclusiva sem incluirmos nossas diferenças?
Qual é a minha potência nesta turma? Minha singularidade? Deve ser eliminada da Construção do meu Ser e do meu Saber e do Ser e do Saber de minhas colegas?
Como posso ganhar com a diversidade, se não permito que ela se faça presente?
Somos todos iguais? Desejamos isso? Ter clones de nós mesmos? Desempenhamos sempre o mesmo papel nos grupos sociais que interagimos?
Por quê excluímos a fala da Simone, já que é importante o saber que ela traz para nós mesmas? Por infantilidade? Por inveja? Por vontade de ser como ela?
A Marialva é a aprendente que teve a coragem de mexer no sintoma! E que sintoma! Ela nos revela algo que é de todas, foi à porta –voz da turma! É pertinente excluí-la?
A Paula (uma das faladeiras da turma) diz que não fala para o grupão porque ninguém deseja ouvi-la. De onde nossa futura psicopedagoga tirou essa idéia? A percepção está distorcida? Ou a turma age deste jeito mesmo?
Todas as pessoas não percebem o fenômeno do mesmo jeito. Paula alega que não fala tão bem como Simone começa a argumentar. Eu convido o grupo, a avaliar a forma que Paula se coloca e todos concordam que Paula fala tão bem como a Simone e que o grupo tem duas forças positivas.
De repente Marialva retoma a palavra e diz que nem parece que estão se formando em psicopedagogia e que ela pensa que todo o psicopedagogo deve ser uma pessoa humanista, disposta a construir vínculos positivos.
Pergunto diretamente a Marialva de quem ela está falando?
Ela diz que a pessoa não está, que infelizmente faltou, aqui a turma toda se manifestou: “temos uma sabotadora na sala’.
Faço outra intervenção dizendo não ser justo colocar tudo na conta dessa pessoa, até porque está comprovado pelas próprias falas que a turma inteira se sabota, portanto o sintoma é de todas!
Etiene faz uma sinalização para o grupo: “a pessoa não está aqui, devemos respeitar isso, ela está sem a chance de se defender e como estamos percebendo, a responsabilidade não é só dela. É nossa!”.
Aqui, Simone verbaliza que Etiene sempre dá esses toques legais.
Toda a turma concorda e parecem estar orgulhosas de terem uma colega assim. Constato com as minhas aprendentes, que a contribuição individual de Etiene deve ser a Ética, portanto descobrimos a verticalidade de uma de nossas colegas! Aqui todas demonstram estarem afetadas, inclusive eu. A Explanação da Educação Inclusiva pode continuar todos já se encontram incluídos ...
Antes de retomarmos os trabalhos, solicito ao grupo algo seu: cada um me dá uma coisa: apontador, estojo, anéis, cordões, eu coloco os meus sapatos e faço um círculo no chão com estes objetos para registrar simbolicamente o ECRO grupal e peço à turma que usem a técnica do SPA (sentir –pensar – agir) durante 5 minutos solicito que procurem sentir o que é psicopedagogia, após esse tempo, dou outra consigna, digo que escrevam, desenhem, façam um poema, música, esquemas ou apresentem em linguagem matemática o que é Psicopedagogia para elas. Dou 30 minutos para essa atividade e peço que elas coloquem a produção dentro do círculo, bato várias fotos, verbalizando que estou fotografando o ECRO grupal da turma.  O objetivo dessa intervenção é para ratificarmos um vínculo positivo com o grupo, com o professor e com o conhecimento. Imediatamente começamos a trocar as produções e pedir que cada um lesse a do colega e fale da impressão que teve, logo em seguida peço que o autor se apresente e diga a nós qual foi a sua percepção e o que achou do outro olhar que sua colega deu a sua obra. Todos confirmaram o valor e o diferencial positivo da troca e da diversidade.
Logo em seguida continuamos as apresentações e convergimos com o artigo de Beatriz Scoz: vivenciamos e teorizamos o saber articulado, saber situado e o saber consciente.
Saber articulado: quando os colegas puderam perceber o mesmo fenômeno (conteúdo escolar) com várias possibilidades de ser explicado. Saber situado: quando fomos buscar a origem daquele saber e entender porque se constituiu dessa ou outra forma, através das produções individuais do grupo e os olhares perceptuais dessa produção pelas colegas. O saber consciente é termos a consciência de que o saber está realmente entre nós e não conosco isoladamente, portanto aqui é a oportunidade de entendermos a responsabilidade social que temos: ser sujeitos sócio-culturais enquanto ensinantes.
Grupo 7 – Conselho de Classe.
A equipe pensa em montar um conselho que atenda as potencialidades e dificuldades dos ensinantes para ativarem o desejo de saber dos próprios profissionais da educação, pensam em fazer isso através de dinâmicas, estudos de caso, troca de experiências resgatando o prazer de aprender dos professores.
Grupo 8 – Conselho de Classe
Montar com a equipe de professores um planejamento de intervenção que caminhasse em conceitos/ conteúdos, processos/ avaliações e questões atitudinais/comportamento dos alunos e do professor.
A Continuidade... 29/03/03.
     Comecei lendo tudo que vivenciamos na semana passada, com objetivo de sistematizar e promover uma devolução para o grupo, buscando favorecer a integração daquelas alunas que faltaram à aula do dia 22/03/03.
     Iniciei pela técnica do SPA (Soares,1997), já que era um desejo de todas conhecer tal técnica (pois as alunas acharam no site do Psicopedagogia on Line), ela foi desenvolvida por mim com objetivo de operacionalizar o Paradigma Luz Borges e facilitar o tipo de intervenção que o Paradigma se propõe. Apresentei como Projeto Piloto: A Psicopedagogia x Filosofia: uma feliz parceria! Onde puderam observar uma intervenção baseada na metodologia do Paradigma Luz Borges.
     Num segundo momento precisava verificar até que ponto sabiam do paradigma, e o que conheciam dele, até para promover a (re) ativação dentro dos próprios princípios que ele se destina, busquei a educação assistemática das alunas para convergir posteriormente com o conteúdo sistematizado. Usei a técnica de Brainstorming (Tempestade de Idéias)
O que é o Paradigma Luz Borges para você?
O resultado colhido foi:
Interdependência do Ser e do Saber.
Princípios ligados ao ato de aprender
Movimentos frente ao novo
Aprender a aprender
Saber do cotidiano x Academia Científica
Garimpar
Interdisciplinareidade
Nada
Dívida
Dúvida
     Após o relato da equipe comecei a buscar associações com o que tínhamos vivido no sábado anterior, lembrei ao grupo o que havia solicitado.
“Pedi que produzissem algo que nomeasse o que vem a ser Psicopedagogia” e cada um produziu de acordo com a predominância de seu tipo de inteligência gerando o princípio de atividade que é o sentimento de busca, de pesquisa, movimento  interno acionado em nós quando estamos em sintonia com o nosso desejo; o espaço de criação, autoria e liberdade se fez presente, principalmente quando trocamos as produções para que cada um falasse do que percebeu e como percebeu exercitando assim a nossa capacidade de descentração  e percepção diferenciada. Convidei uma voluntária (Liliane) do grupo para explicar o gráfico: O Movimento Natural na Construção do Ser/ Sujeito.  Pedi que ela desenhasse no quadro as coordenadas e as abscissas, ela fez e comecei a pedir informações sobre sua história única particular, ao mesmo tempo fui sistematizando a realidade interna e a realidade externa da Liliane, até chegarmos no eixo da diagonal exercitando a sua possibilidade de Ser no Mundo através do eixo da espiral dialética. O grupo ia percebendo as relações estabelecidas nas variáveis/ dimensões através da exposição de Liliane, podendo assim vislumbrar o que de fato pode ocorrer com o aluno no processo ensino – aprendizagem, se levarmos em conta o Movimento Cognitivo- Afetivo- Social na Construção do Ser e do Saber. Agradeci a participação da aluna e comecei a sistematizar através das transparências: o Paradigma Luz Borges, demarcando a grande diferença do tipo de mediação e facilitação usando como referencial o paradigma  com outra abordagem teórica. Finalizo dizendo que nossa intervenção parte da saúde da criança, adolescente ou adulto, ou seja, do seu potencial, daquilo que sabe fazer bem, portanto: acompanhamos, cuidamos, intervimos e se necessário tratamos. Desta forma fica mais visível e seguro a discriminação do que é da escola, da família e da clínica psicopedagógica.
O último momento foi a Dinâmica do Caso Miguel: esta dinâmica objetiva demonstrar como a percepção social é construída, influenciando nossa maneira de sentir, pensar e agir sobre nós mesmos e os outros, nesse momento ainda intervenho numa construção de um olhar imparcial, comprometido com a saúde e com  a possibilidade do Ser. O grupo se depara com o poder de influência que os outros exercem sobre nós mesmos, podendo até se concretizar tais percepções legitimando as autoprofecias realizadoras que Pichon Rivière assinala em sua obra.
Conclusão:
O mais maravilhoso de tudo foi compartilhar com essas educadoras o saber com gosto de mel; inclusive ganhei um livro de presente que foi batizado desta forma: O SABER COM GOSTO DE MEL, construído por uma aprendente que foi uma grande ensinante para todas nós; nossa querida Jeane e seu filho Rodrigo; eles nos mostraram através de sua atitude que devemos registrar aquilo que nos faz bem e que devemos compartilhar com todos.
O mais trans é que o livro exala todas as alunas inclusive a própria Jeane, ou seja, tivemos um Encontro D’ EUS, onde pudemos incluir a diferença do outro em nós mesmas! Atingindo inclusive a aprendizagem de forma sagrada.

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